Da lama ao caos: o País que não queremos
13/11/2015
Tragédia ambiental em Mariana (MG) acontece justamente no
momento em que governo e poder econômico pressionam pela flexibilização das
regras do licenciamento ambiental, que pretendem evitar desastres como esse.
Leia artigo de opinião de Maurício Guetta, advogado do ISA
Maurício Guetta, advogado do ISA
A tragédia do
rompimento das barragens de rejeitos de mineração da Samarco, empresa
controlada pela Vale e pela australiana BHP Billiton, deixa exposta a ferida
brasileira sobre os descaminhos políticos que vivemos, principalmente em
relação a questões socioambientais.
Mortes de um (ainda)
sem número de pessoas, uma cidade inteira destruída, fauna e flora dizimadas,
rios estéreis, desabastecimento público de água e outros tantos danos
irreparáveis poderiam e deveriam ter sido evitados. A tônica sempre latente no
Brasil é a da insuficiência de planejamento e de prevenção, além do desrespeito
aos direitos dos vulneráveis, invisíveis aos olhos do Estado, refletindo o
descaso do Poder Público e das empresas exploradoras de recursos naturais com a
mais relevante orientação constitucional em relação ao Direito Socioambiental:
sendo os danos socioambientais de impossível ou difícil reparação, geralmente
com drásticas e duradouras consequências para a população e o equilíbrio ecológico,
é preciso sempre adotar práticas de prevenção destinadas a antecipá-los e, com
isso, evitá-los.
Por uma trágica
coincidência, foi ao final do seminário “Licenciamento
Ambiental: realidade e perspectivas”, realizado, na semana passada,
pelo ISA e o Ministério Público Federal, que recebemos a triste notícia sobre
este que certamente é um dos maiores – senão o maior – desastre ambiental da
história recente brasileira.
A mais contundente lição extraída das
exposições de 23 especialistas no evento foi uníssona: o Licenciamento
Ambiental, principal instrumento da Política Nacional de Meio Ambiental, é uma
conquista do povo brasileiro e deve ser aprimorado.
Apesar disso, para
atender à malsinada “Agenda Brasil” – conjunto de propostas supostamente
destinadas a tirar o País da crise econômica – tramitam no Congresso 19
Projetos de Lei com o objetivo de alterar a legislação sobre o tema, sendo a
sua grande maioria destinada a simplificar o licenciamento.
Segundo esta lógica perversa, o meio ambiente
e as populações afetadas nada mais seriam do que meros entraves ao
desenvolvimento.
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